Entrevista com o PortugalTunas

Recentemente fomos entrevistados pelo PortugalTunas, deixamos aqui transcrito o texto da mesma.

“1. Venusmonti: Qual a origem do vosso nome? É possível sabermos ou nem por isso?

O nome VenusMonti surgiu de uma brincadeira entre os nossos fundadores. Um deles tinha por hábito brincar com latim vernáculo e, segundo palavras do próprio, nas derivações do verbo “conacere” (“conhecer” numa versão aldrabada) acabou sair um “conachatum” para a terceira pessoa do plural (“conheceram”), desse mesmo “conachatum” à piada do monte-de-Vénus foi um pequeno salto para a mente de um universitário. Os restantes fundadores, achando piada, decidiram baptizar a recém-criada tuna de VenusMonti.

 

2.Vocês fundaram-se em 1996, no dia da Liberdade, 25 de Abril. Sendo vocês uma Tuna de uma Faculdade com vasta tradição no campo das liberdades, como vêm a vossa Tuna nesse contexto?

Na verdade, a Tuna surgiu antes do 25 de Abril. A nossa Tuna aparece no contexto de uma cisão da Tuna Mista, começando a ensaiar no início de 1996. Dia 25 de Abril é considerada a data da fundação por se tratar da data da primeira actuação, em Abrantes, enquanto VenusMonti – Tuna Académica da Faculdade de Direito de Lisboa.

Não obstante, o aniversário oficial é sempre comemorado nesta data, que também foi o dia escolhido para os vários festivais (I, II e III Instância – 2001, 2002 e 2004 respectivamente).

Quanto à nossa faculdade, se é inequívoco o seu papel histórico, há hoje ali uma degradação clara do associativismo jovem, pouco diferente de certas lógicas aparelhísticas dos nossos principais partidos. E os processos eleitorais reflectem isso mesmo. Pensamos que a VenusMonti pode ter um papel fundamental, porque o que fazemos representa uma marca da diferença facecinismo e cinzentismo tão em voga pela faculdade, a que Bolonha só veio contribuir, procuramos, através da música, dar alguma cor à comunidade estudantil da nossa Academia.

 

3. Tiveram desde 1996 altos e baixos, como todas as tunas certamente tiveram. Como foi esse percurso até aos dias de hoje?

Houve no início um ciclo que culminou no nosso primeiro festival em 2001, percurso feito de crescimento da instituição e de muito trabalho musical. Esta base solidificou-se e foi-se mantendo constante nos três anos seguintes. O que sucede, em 2004, é resultado de uma renovação geracional que não correu bem, depois de vários problemas internos deu-se um grande e abrupto decréscimo de elementos, seguindo-se um interregno de actividade, com eventos esporádicos, que viria a durar até 2009. A partir de 2010 houve um novo impulso de crescimento, tanto a nível de membros como a nível qualitativo, dificultado pelo ambiente específico da nossa faculdade e por Bolonha, com muitos estudantes a focarem-se no curso e não em actividades que, sendo importantes até para a formação, são vistas algo como “perda de tempo”, como desvio do essencial, mas também dificultado por alguma falta de referências por parte desta nova geração, que tem algo de autodidacta.

 

4. No seio Lisboeta onde se enquadram? Numa perspectiva mais musical da tuna ou numa vertente mais ligada às tradições universitárias?

A Tuna como instituição é uma entidade demarcada, tanto que muitas já se encontram registadas enquanto associações independentes. Um papel e objectivo claro: Música. A própria Tuna Estudantil/Académica/Universitária portuguesa, enquanto instituição, é de tradição universitária. Todavia, ser parte da tradição universitária não deve servir de desculpa para que se confunda Tuna com Praxe. Os participantes podem ser os mesmos nos dois universos, mas estes devem sempre ser considerados distintos.

A actual confusão de que as Tunas, enquanto grupos de estudantes, devem estar vinculadas à Praxe tem como base do equivoco dois aspectos a salientar: Em primeiro lugar o uso de um traje estudantil. Nas últimas décadas assistiu-se a uma deturpação do significado do mesmo, deixou de ser um traje distintivo da classe estudantil para passar a ser um traje do praxista. O segundo deve-se ao facto dos autoproclamados organismos de Praxe quererem expandir progressivamente o seu poder. E há quem deixe. Os grupos que preferem submeter-se a organismos de Praxe passam uma imagem diferente do que são, ao invés de se definirem a si mesmo como um grupo musical, acabam por se autoproclamarem como uma trupe musical. De notar que isto não é uma crítica, cada um terá o poder e a liberdade de ser aquilo que quiser, desde que se assumam enquanto tal.

Na nossa opinião, uma Tuna Académica veste “Capa e Batina”, ou o traje que adoptar, somente e apenas por se tratar de um grupo de estudantes e esta ser a indumentária que distingue a classe estudantil da restante sociedade.

Em suma, na nossa opinião, a instituição Tuna existe, ou deveria existir, como um grupo musical, em primeiro lugar, sendo esse o objectivo que prosseguimos em primeiro lugar. Tudo o resto é secundário.

 

5. Porquê Salamanca como “cidade de eleição”? Querem partilhar essa experiência? Espanha diz-vos muito enquanto Tuna?

A ligação da nossa Tuna com Salamanca remonta, ao que conseguimos apurar, a 1999.* Ano em que os membros da altura decidem fazer uma viagem, em ambiente de tuna, a essa cidade castelhana. Ora, essa viagem tornou-se um hábito e, sempre que podiamos, viajavamos até lá, chegando a tornarmo-nos conhecidos dos habitantes. Chegou ao cúmulo de a VenusMonti ir passar o ano novo a um bar chamado El Yunque a convite das donas do mesmo. Posteriormente, essas mesmas donas receberam um convite para virem assistir ao nosso primeiro festival, I Instância.

No ano do I Instância, 2001, numa das várias viagens a Salamanca a VenusMonti cruzou caminho com a Tuna de Medicina de Salamanca, tornando-se amigos, também estes receberam, e aceitaram, participar no festival. Mais tarde, os membros da Tuna local começaram a organizar Rondas para a nossa Tuna, a actividade de sair à rua e cantar serenatas à janela de donzelas. Prática que fizemos questão de trazer connosco de Espanha e repeti-la, ainda hoje, pela cidade de Lisboa.

Salientamos o facto de existir, pelo menos, um membro da VenusMonti que pertence à Tuna de Medicina de Salamanca.

De toda esta história com Salamanca foram adoptados certos valores e actividades tuneris características das tunas castelhanas pela nossa Tuna. Valores esses que ainda hoje estimamos e respeitamos.

 

6. Como vêm o actual panorama nacional de tunas estudantis?

Pensamos que se criou, com os festivais, um circuito fechado, em que Tunas actuam para Tunas, precocupando-se com a sua imagem dentro da comunidade, mas pouco com a sua imagem na sociedade em geral (que não é muito positiva). Pensamos que o futuro exige trabalho (e criatividade) em termos artísticos e também na diversificação dos “palcos”. Que a Tuna não se afunile, que vá para a rua, que faça serenatas fora do concurso de serenatas, que espalhe música pelos mais diversos locais, sem se confinar a Teatros com aquelas características específicas ou ao certame competitivo.

Quanto ao problema da falta de membros, não acreditamos, de todo, que uma certa imagem negativa, como adereçámos, seja irrelevante para as dificuldades de recrutamento. Mas Bolonha e a crise económica acarretam consigo consequências e uma certa diminuição de membros é inevitável. Não somos tão pessimistas ao ponto de perspectivar uma extinção em massa, embora achemos que as Tunas se vão ter de reorganizar e habituar a trabalhar com grupos mais pequenos. Alguns desaparecimentos acontecerão, mas pensamos que uma Tuna não precisa de 40 membros para ser uma grande Tuna. Poderá o futuro passar também por vermos Tunas que, sendo mais pequenas, são capazes de apresentar propostas musicais de grande valor, desde que sejam exigentes consigo mesmas e focadas no seu objectivo primário: a música.”

 

In PortugalTunas

PortugalTunas.com

 

*Após correcção, em comentário a este artigo, do nosso caro Tiago, o Tuno Argentino, onde diz “remonta a […] 1999” deverá ler-se “remonta a […] 1997”. Grande abraço de volta, Tiago.


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